Era outubro de 2019, fim de tarde, numa praça, cercada por pessoas desconhecidas, avistei um moço do qual eu nunca tinha visto antes. Cabelos negros, corpo magro e com suas mãos envolventes ao tocar um lindo som no teclado. Busquei nele o olhar e não o encontrei. Foi assim, que te vi pela primeira vez.
Eu, meses depois, decepcionada após um termino torturador, cometi a grande inépcia de aproximar-me de ti, dando então, o nosso primeiro passo de extrema insegurança, erros, falhas e decepções. E desde lá, eu já deveria saber que não poderia depositar em ti, o meu único porcentual de esperança, afinal, ele não poderia pertencê-lo.
Porém, não posso negar que sua entrada em minha vida também me trouxe muitas coisas boas. Junto a sua bagagem você me trouxe mais intimidade com Deus e me fez formular o tipo de relacionamento que quero para minha vida. Me encantava a forma da qual você beijava a minha mão todas vezes que nos encontrávamos, nas vezes que dançávamos aquela valsa e eu me encostava em seu ombro a sentir um conforto inexplicável. Meus olhos enchiam de lagrimas ao saber que você me deu a mão quando todo o mundo a soltou. Mas eu lhe entreguei, os cacos de um coração recém-partido de um amor adolescente, esperando, da forma mais indireta possível, que você me trouxesse o preenchimento de um vazio que você nem mesmo causou.
Eu nunca consegui me apaixonar por você, meu coração nunca bateu forte ao te ver, eu me esforcei pra sentir porque acreditei valer a pena. É dolorido, eu sei, mas criei uma fantasia da qual eu, de fato, acreditei, e estava totalmente disposta a rejeitar meus sentimentos reais por você, loucura, mas como eu disse, você era a minha única porcentagem de esperança.
E por consequência, me magoei facilmente. Me magoei quando você não pulou de alegria e não teve nenhuma reação apaixonante quando decidi te esperar por 2 anos, por DOIS ANOS! Me magoei quando, nos primeiros meses de conversa, disse que gostava de loiras, mesmo eu tendo um dos cabelos mais pretos que já vi em toda minha vida. Me magoei quando disse que, quando comprasse uma moto, não me deixaria dirigi-la, mesmo sabendo que eu estava imensamente animada por ter aprendido a dirigir. Me magoei quando, ja desgastados, encontrávamos os nossos olhares através da tela fria do celular, sem nada a dizer, a garganta secava, o silencio ensurdecedor aparecia e o desconforto vinha. Me magoei quando você se foi para quilômetros de distância de mim. Me magoei ao me deparar que não cumprimos a nossa promessa de nos esperarmos. Me magoei, me magoei e me magoei. Talvez fossem coisas bobas para ti, mas importantes para mim, e você sabia disso.
Foi erro seu? É lógico que não.
O erro foi meu em ter esperado atitudes que nem eu mesma tinha, foi erro meu ter depositado minhas expectativas em um alguém que não existe, que nunca existiu, e ter insistido nisso. Por dois anos, por “apenas” dois anos.
E, todos os dias, ao me recordar, sentia como se os meu ossos fossem quebrados um a um, exalando um cansaço interior, coração com o pulsar acelerado e suor, clamando por socorro. Ali eu reencontrei a ansiedade, sem avisos ou alertas, brutalmente, tomando conta do meu corpo.
Hoje eu sei que o proposito do nosso encontro não era o relacionamento amoroso, e sim, a amizade, e é uma pena saber que ultrapassamos tudo de forma tão imatura, não nos restando nenhum rastro de carinho, amor ou companheirismo.
Depois de ti, não perderei as esperanças, depositarei, agora, minha esperança em Deus, onde sempre deveria estar, e ele curará todas as feridas do meu interior, para que o meu futuro companheiro receba meu coração de forma genuína e com todo o amor e respeito que existirá em meu ser, por ele.
Asafe, através dessa carta, estou te removendo do meu coração, sem um sequer abraço ou olhar de despedida, jogando na lixeira todas as mensagens, fotos e lembranças acumuladas, expulsando todas as minhas inseguranças e medos que desenvolvi em nossa trajetória, e embarcando para uma das melhores fases de toda minha vida.
Obrigada por ter feito parte de minha história, assim eu me despeço.
Com amor, Smallwhite
03/09/2021